A trajetória da banda que mantém viva a musicalidade do DF
Foi no fim de 2014, depois de 2 anos de uma incansável busca de Múcio Botelho por parceiros, que surgiu a banda brasiliense LUPA. "E no final das contas, encontrei a pessoa que eu precisava na casa da minha vó", conta, com humor, o idealizador do grupo musical. Conhecido como "Juninho", o baterista da banda é primo do guitarrista e vocalista da Lupa.
Era uma tarde na casa da Vó Marina, e Mucio se surpreendeu ao ver João Pires tocar com os amigos. "Chamei ele para ensaiar no pub do meu tio, o Paulinho. Ele ia com a banda dele e eu levava uns meninos que eu estava testando pra lá", relembra o artista. Devido a uma falha do baterista que estava sendo avaliado por Mucio em um dos dias, João, a pedido do primo, o substituiu. Foi o suficiente para o vocalista da futura Lupa o chamar para compor seu mais novo projeto.
Bastou uma semana de nascença para que a Lupa começasse a fazer shows. O primeiro evento, de acordo com o vocalista, foi na Universidade de Brasília, chamado Festival de Rock, da Faculdade de Direito. A convite da coordenadora do Centro Acadêmico do curso, a banda teve o primeiro contato com o palco e com músicas autorais.
Brasília é lar
"Brasília é nossa casa, sempre foi nossa casa e não tem jeito de ser diferente. Todo mundo é daqui, e somos apaixonados por essa cidade", diz o cantor se referindo ao local onde ele e os colegas nasceram e deram forma a seu sonho.
Dentre os melhores momentos já vividos pelo grupo, Mucio cita o clipe da música "E se não der pra esperar?". Eles abriram uma chamada pública, por meio de um formulário, chamando as pessoas para, literalmente, beijarem os integrantes da Lupa. Na data, foram gravados mais de 600 beijos. "Foi muito especial pois, primeiro, os fãs estavam passando um dia com sua banda favorita, segundo, estavam ouvindo, em primeira mão, uma música nova e, em terceiro, eles estavam beijando", brinca o músico.
Dificuldades
Ao ser questionado sobre os obstáculos enfrentados pelo grupo desde a criação, Múcio pontua vários. "Todas as bandas passam por dificuldades diariamente, mas as que continuam, que permanecem, são aquelas com mais tesão, com mais força, e aí, dá certo", afirma. No início, o estereótipo de roqueiro , até pouco tempo atrás muito presente na cabeça das pessoas, perseguiu a Lupa. "Éramos muito zoados. As pessoas ridicularizam a gente porque o 'roqueiro tradicional' é um cara todo vestido de preto, sisudo e mau, e nós nunca fomos isso, sempre fomos o contrário", comenta.
poderiam te ajudar a dar um salto. "A Lupa só conseguiu fazer show fora de Brasília depois do lançamento do nosso primeiro CD, ou seja, 2 anos depois de criarmos a banda". Ele destacou que o grupo só chegou às rádios brasilienses após já ter circulado por rádios de todo o país. "Só entramos em festivais grandes da capital, depois de tocarmos em grandes festivais nacionais", acrescenta, sempre salientando que o apoio da galera local foi essencial para terem alcance no mainstreaming.
Referências
Cinco meninos aleatórios em termos de gostos musicais. É assim que Mucio Botelho se define e define os colegas de trabalho. "Geralmente, as bandas começam fazendo covers, tendo referências claras para seguir, e a gente não tinha", explica. "Todo mundo tinha muito medo de falar de amor, porque é brega, mas só se você falar do jeito que todo mundo fala. Colocando a cabeça para pensar, conseguimos ter um resultado massa. Sempre fomos do rock, mas nunca quisemos ser uma banda de rock pesado", acrescenta o vocalista. A banda, como ele diz, também não se encaixa no título de pop, muito menos do pop rock, o que a coloca em um 'limbo' que sempre a deixou sozinha no universo musical.
Devido a isso, Múcio diz que, em termos de referências, a Lupa se espelha no rock alternativo, do começo dos anos 2000. "Aqui em Brasília, temos como banda da nossa vida a Móveis Coloniais de Acaju", revela.
No entanto, a comparação ao grupo não vem do som, mas sim do jeito que eles faziam as coisas. "Eu tinha 16 anos e estava no Porão do Rock. E nesse evento
o Móveis tocou. Eram 15 pessoas entrando no palco, com vários instrumentos, e o vocalista, André. Eu nunca tinha visto um artista tão feliz como ele estava e eu tive a certeza de que ele estava muito realizado com o que estava fazendo", compartilha o guitarrista. "Eu só pensava 'é isso que eu quero fazer!', continuou.
Rota do rock
Dentre os locais citados na Rota do Rock, Múcio cita alguns onde a banda Lupa já teve a oportunidade de tocar e viver uma história. São pontos como o Estádio Nacional, onde eles participaram dos Porões do Rock, no estacionamento do Mané Garrincha. O Gates, onde fizeram o terceiro show como banda e onde, pela primeira vez, pessoas que eles tinham como importantes referências na capital compareceram, e o Teatro Garagem, na 913 Sul. "Esse, inclusive, tem uma história engraçada, porque o show que fizemos lá foi o que contou com mais coisas erradas no processo", rememora.
A Esplanada dos Ministérios também não fica de fora da lista da banda. A Lupa se apresentou no local na comemoração do aniversário da Capital Federal, juntamente com a cantora Anitta. "Choveu muito nesse dia, e a Esplanada ficou repleta de barro. Tinha muita gente e eu pulei do palco, no meio da lama, e fizemos uma bagunça. Ficou todo mundo sujo", diz, rindo muito.
O que, para ele, é um fato interessante, é que a Lupa começou em todas as quadras vizinhas de onde as outras grandes bandas começaram.
Futuro da Lupa
"Somos feitos para estar no meio do povo. Somos da bagunça, da muvuca, e depois desses dois anos longe disso, que coincidiu com o momento de pico da Lupa, queremos isso de volta", lamenta Mucio. Após três anos de turnê, assinatura de contrato com a Sony Music, produção de cinco novos singles, um show no Rock In Rio e uma série de entrevistas para revistas como Rolling Stones e Caras, o artista revela que os planos incluem gravar o primeiro DVD Ao vivo da Lupa, a produção do segundo CD da banda, e o lançamento de seis singles.
A pandemia trouxe o retorno dos brasilienses aos parques e espaços públicos de Brasília e, como compartilha Mucio, a ideia é utilizar esses locais que 'ressuscitaram' com a crise sanitária. "Tem muito lugar para a gente ocupar, muito espaço massa. É mais fácil das pessoas irem e movimenta a cidade", diz.
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